terça-feira, 4 de maio de 2010

Crimes Exemplares ou porquê cometer um homicídio por dá cá aquela palha .



"Começou a mexer o café com leite com a colherzinha. O líquido quase transbordava da chávena empurrado pelo movimento do utensílio de alumínio (o recepiente era vulgar, o sitio era ordinário e a colher estava arredondada pelo uso). Ouvia-se o barulho do metal contra o vidro. Tim, tim tim. E o café com leite girava, girava com uma cova no meio. E eu encontrava-me sentado mesmo à frente. O café estava à pinha. O homem continuava a mexer, a mexer, imóvel, e sorria ao olhar-me. Senti uma coisa a subir-me por mim acima. Fitei-o de tal maneira que se viu na obrigação de se explicar:
- O açucar não está derretido.
Para mo provar, bateu com a colher várias vezes no fundo do copo. Recomeçou a mexer metodicamente a beberagem, com uma energia redobrada. Voltas e mais voltas, sem parar, eternamente. Voltas e mais voltas. E continuava a olhar para mim sorrindo. Então puxei da pistola e disparei."

"Rachei-a de alto a baixo, como um animal porque ela contava as moscas no tecto enquanto fazíamos amor"

"Coitado, era tão feio que cada vez que o via era como um insulto. E há limites para tudo."

"Tínhamos ido caçar patos selvagens. Pus-me à coca. Que me teria levado a pôr na mira esse gordo, banhudo e ridículo com o seu chapéu de Tirol, com peninha e tudo?..."

[Max Aub recolheu confissões de homícidas em Espanha, em França ou no México ao longo de mais de 20 anos.
Edição ilustrada em cima por 25 euros.
Edição regular em baixo por 11.5 euros]

3 comentários:

Gijane disse...

Muito bom!

Outra boa razão, sem ser por dá cá aquela palha, que é uma das melhores, é por sem mais nem menos.

Anónimo disse...

ou porque estava mesmo a pedi-las :-)

Gijane disse...

Sim! É o "toma lá que já levaste"!